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Vício em medicamentos: Ansiedade aumenta na pandemia e especialistas alertam para a automedicação

Por Kelyanne Carvalho

Em tempos de pandemia, quando a população mundial está mais ansiosa (e temerosa) com a mudança de rotina, de planos, perdas de pessoas, de emprego e vários outros transtornos causados pela Covid-19, é fato que a saúde mental vem sofrendo danos. Diante disso, especialistas alertam para o perigo da automedicação e o uso demasiado de remédios, levando ao vício (dependência química).

Na tentativa de controlar o aumento da ansiedade, algumas pessoas procuram ajuda de forma errada e acabam colocando a própria vida em risco. O fácil acesso às informações através da tecnologia, somado ao medo de sair de casa e a crise financeira, fazem do Google (ilusoriamente) “o pai dos médicos” e aí entra a automedicação e o uso de fármacos de forma indiscriminada. E as experiências medicamentosas que serviram para uns, acabam servindo (ou não) para outros.

Na maioria das vezes, quando a experiência dá certo, a automedicação acaba virando um hábito e, posteriormente, um vício em remédios. O viciado em medicamentos sente a necessidade de usá-los com uma frequência cada vez maior, provocando mudanças no comportamento. Um mal-estar, uma dor, por mínima que seja, já vira motivo para tomar remédios.

Foi o que aconteceu com Ana Cristina Ramos. Ela costumava tomar analgésicos para dor de cabeça, sinusite, dor de coluna, cólicas, etc. Para qualquer que fosse a queixa, havia sempre uma medicação nas mãos.

“Eu tomava um medicamento fitoterápico quando estava me sentindo muito ansiosa, no entanto, com a piora disso na pandemia, passei a tomar um tarja preta. Depois, soube de uma medicação que tinha dado certo para outras pessoas, consegui a receita e passei a tomar também”, conta.

Ana Cristina confessa ser viciada em remédios e diz que só se preocupou com a situação quando misturou vários fármacos e passou mal, mudando até seu comportamento. “Eu sinto alívio quando tomo uma medicação para curar algo que estou sentindo. Mas, naquele dia, eu vi que realmente precisava de ajuda para parar com esse vício de tomar remédios”, desabafa.

De acordo com o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o consumo de medicamentos é a principal causa de intoxicação. É que as superdosagens resultam no acúmulo de componentes no organismo, provocando alterações na pupila, alucinações, diminuição da pressão, vômitos, etc.

Com a ingestão de diferentes medicamentos e a consequente mistura das substâncias, pode haver reações adversas leves, moderadas ou graves, podendo ser necessária até internação hospitalar, dependendo da gravidade.

blank“Existem campanhas que orientam as pessoas a não se automedicarem, porém, há uma doença que está associada a automedicação, ao uso exacerbado de medicações, ao medo de morrer ou sofrer com alguma questão física, com uma doença grave. E essa preocupação leva você a buscar não só diagnósticos médicos, mas a própria automedicação. É a hipocondria (o Cid 10)”, explica a psicóloga Renata Toscano.

Segundo a psicóloga, às vezes a pessoa pode buscar a automedicação não por ter um transtorno psicológico e sim fatores de ansiedade. “Mas, geralmente, pessoas com transtorno do pânico, pessoas com transtorno de ansiedade generalizada, têm medo iminente da morte e acabam buscando no medicamento uma forma de solucionar os danos, de suprir aquela necessidade. Isso pode gerar a hipocondria”.

Renata lembra que “só um médico é capaz de prescrever uma medicação e a falta de conhecimento dos riscos pode causar uma alergia, ou até camuflar uma sintomatologia, um problema e essa necessidade”, finaliza.

blankO psiquiatra e coordenador do curso de Medicina da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Estácio Amaro, ressalta que a hipocondria faz com que a pessoa ache que está com alguma doença e, por essa razão, faça uso indiscriminado de medicamentos (psicotrópicos ou não); e geralmente não prescritos pelo médico ou prescritos em dose e tomada por dia diferentes. “Isso pode causar dependência, ou seja, vício”, alerta.

O médico psiquiatra afirma que a dependência de medicamentos pode ser física ou psíquica. “Denomina-se física quando o organismo necessita daquela substância. Por exemplo: a pessoa só consegue dormir se tomar o hipnótico (benzodiazepínicos), como clonazepam e diazepam. E ela é psíquica quando a pessoa tem uma dependência emocional. Por exemplo: acha que só vai conseguir fazer algo, seja dormir, aliviar a ansiedade, etc., se tomar determinado medicamento”.

blankComo identificar um viciado em remédio?

Pessoas viciadas em medicamentos apresentam comportamentos característicos que facilitam a identificação de um quadro de dependência. Veja abaixo alguns sinais.

Mudança de comportamento

Normalmente, o viciado direciona suas ações para encontrar algo que justifique a sua necessidade de ingerir remédios. Sinais físicos pouco significantes, como mal-estar gástrico ou uma fraca dor de cabeça, são motivos para a automedicação.

Visitas constantes a consultórios médicos para conseguir receitas geralmente também são um indício.

Abstinência

Ao passar um período sem consumir remédios diariamente, a pessoa pode demonstrar inquietação, dores nos músculos e ossos, insônia, sensação de frio interno, etc. Isso ocorre porque o organismo, que já estava acostumado com a substância, sente falta das doses de medicação e se manifesta com reações físicas.

Necessidade de aumentar a dose de medicamentos

Após tomar a mesma dosagem de remédio por determinado período, o corpo adquire uma tolerância aos componentes e não proporciona a mesma sensação de antes. Assim, é necessário aumentar a quantidade da medicação para que o bem-estar seja sentido novamente.

Utilização indiscriminada de remédios

Nesse caso, o indivíduo ingere medicamentos por conta própria, ou com prescrição médica, mas não respeita os intervalos de uso nem a dose recomendada, passando posteriormente por consequências que podem ser graves ou até fatal.

Apesar de algumas pessoas acharem que o vício em remédios pode ser tratado como um problema simples, pois, “basta ter força de vontade”, não é bem assim! Qualquer tipo de vício é preocupante! Eles podem causar graves danos à saúde, com consequências irreversíveis, ou até a morte. Por isso, é preciso procurar a ajuda de profissionais especializados para o reestabelecimento da qualidade de vida e do bem-estar.

 

 

 

 

 

 

 

 

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Valter Nogueira

Valter Nogueira de Amorim, jornalista profissional, é o editor-chefe do blog. Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal da Paraíba (1988). Atuou nos principais jornais impressos do Estado, tais como A União, O Momento, Correio da Paraíba e O Norte. No campo administrativo, foi secretário de Comunicação da Prefeitura Municipal de Santa Rita (1997-2005), assessor de Imprensa da Prefeitura de Pedras de Fogo (2008). Exerceu, também, o cargo de gerente de Comunicação do Tribunal de Justiça da Paraíba, no período de fevereiro de 2015 a janeiro de 2019. No período de maio de 2024 a março de 2025, Valter Nogueira respondeu pela ASCOM do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba.