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Incoerência e contradição nos decretos: permitem grandes shows, mas inviabilizam casamentos

Por Kelyanne Carvalho

É comum ouvir falar que “a corda sempre arrebenta do lado mais fraco”. Isso é mais que verdadeiro e, atualmente, na Paraíba, um exemplo nítido disso são os decretos municipais e estadual para conter a propagação do coronavírus. Com privilégio para “os grandes” e sem ponderação para “os pequenos”.

Diante do crescimento do número de casos, óbvio que se faz necessário endurecer as medidas de combate a Covid-19. Porém, é nessas horas que os governos municipal e estadual demonstram nitidamente suas contradições, hipocrisia e revelam que, quando não estão obtendo lucro, “o pau que dá em Chico não dá em Francisco”.

Na desculpa de conter o vírus, os decretos atuais de João Pessoa e da Paraíba praticamente “barram” pequenos eventos particulares como casamentos porque, na verdade, os gestores públicos não estão obtendo lucro algum por trás deles.

Grandes shows com cinco mil pessoas, podem acontecer! Já casamentos com apenas 100, 80 ou 50 pessoas (alguns já adiados por três vezes), não podem! Mas, para não deixar isso muito claro, os gestores dificultaram exigindo testes para todos os convidados (testes esses que eles nem têm quantidade suficiente nem logística para oferecer).

Traduzindo melhor: houve uma “proibição mascarada”. Afinal, como realizar um casamento onde noivos e todos os convidados ficam sabendo em cima da hora que precisam apresentar o teste de antígeno negativo para Covid-19 realizado em até 72 horas antes do evento? Que tal ser mais maleável, coerente e sensato e exigir o teste apenas para quem não apresentar o cartão com as duas doses da vacina? (até porque o sistema público viabilizou as vacinas, mas não têm testes para todos).

Por acaso as prefeituras ou o estado estão facilitando o agendamento para essas pessoas e ofertando esse teste gratuitamente para elas? Não! Os nubentes estão mais uma vez precisando remarcar suas datas e isso envolve muita coisa, pois é preciso reagendar e conciliar as datas de toda a estrutura do evento. E quem vai pagar essa conta? (fora o estrago emocional causado).

Com os adiamentos e cancelamentos, os pequenos fornecedores do ramo de eventos, tais como os que fazem bolo, cerimonial, fotos, decoração, etc., também estão sendo prejudicados.

Interessante a hipocrisia de uma prefeitura e um estado que, mesmo sabendo que iria haver um pico de casos agora, deixou grandes eventos acontecerem, como o Fest Verão, o Natal dos Sentimentos e, em breve, deixará o São João de Campina e outros. Estes, através dos quais os grandes empresários e a iniciativa pública ganham bastante dinheiro, estão liberados! Certamente o coronavírus não é propagado neles porque a nuvem de fumaça do dinheiro fácil impede isso!

Aí eu pergunto: será que os pequenos eventos foram os responsáveis pelo crescimento dos casos de agora na Paraíba? Outros estados aumentaram as restrições, porém para festas com 300, 500 pessoas.

Exigir álcool nos pequenos eventos, máscara, comprovante de vacinação e diminuir a capacidade local?! Ok! Mas exigir a testagem de todos é absurdo, desrespeitoso, debochante! Imagine, após inúmeros gastos e remarcações, agora os noivos terem que pagar testes para cada convidado? Sem condições! E se os próprios convidados pagassem? Quase ninguém iria comparecer!

Enfim, vamos radicalizar menos e ter mais empatia, não é gestores?! Vocês esquecem que essas pessoas estão sendo prejudicadas financeiramente e psicologicamente há meses, aliás, anos! E se esses eventos de pequeno porte fizessem tanta diferença na propagação do vírus vocês não liberariam shows com cinco mil pessoas.

Se os gestores públicos da Paraíba querem “mostrar serviço”, que o façam ao menos ofertando os testes para esses pequenos eventos de forma diferenciada e urgente, porque todos sabem que o agendamento está complicado para uma única pessoa fazer (imagine para todos os participantes de um evento).

O presente texto traduz a preocupação e angústia de dezenas de noivas que têm desabafado por meio de grupos de whatsapp e através de suas redes sociais, realidade que revela a difícil situação de vários casais que investiram bastante em seus sonhos e, agora, se deparam com essa desagradável decisão do poder público, desfazendo mais uma vez os seus planos (alguns casais, à flor da pele, estão até se separando) devido a exigência do teste de Covid que, no atual momento, é inviável do ponto de vista de logística.

Quem sabe esses testem aparecem quando chegar o São João de Campina Grande, o de Bananeiras, entre outros, no qual rola muito dinheiro e por isso a flexibilização vai chegar (só que para os grandes, por pressão de empresários que lucram nessas ocasiões).

Atenção, gestores: um pouco de bom senso e menos contradição não faz mal a ninguém! Nunca é tarde para lembrar que o bom exemplo é sempre o melhor professor. E que as eleições são em outubro (e os pequenos prejudicados também votam). Ou vocês vão adiar?!

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Valter Nogueira

Valter Nogueira de Amorim, jornalista profissional, é o editor-chefe do blog. Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal da Paraíba (1988). Atuou nos principais jornais impressos do Estado, tais como A União, O Momento, Correio da Paraíba e O Norte. No campo administrativo, foi secretário de Comunicação da Prefeitura Municipal de Santa Rita (1997-2005), assessor de Imprensa da Prefeitura de Pedras de Fogo (2008). Exerceu, também, o cargo de gerente de Comunicação do Tribunal de Justiça da Paraíba, no período de fevereiro de 2015 a janeiro de 2019. No período de maio de 2024 a março de 2025, Valter Nogueira respondeu pela ASCOM do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba.