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A incoerência partidária

Por Ésio Barros*

O pensamento político de um povo é refletido na ideologia dos partidos e no comportamento eleitoral das pessoas.

Os posicionamentos dos pleitos, geralmente, são decorrentes das possibilidades sociais dos eleitores. Como deixou bem claro Karl Marx quando teorizou sobre as classes sociais. Na visão marxista não seria a consciência que determinaria o ser social, mas o ser social o determinador da consciência. Nesse sentido, deveria ser incentivada a formação política da população para que a luta de classes não fosse tão determinante nos resultados eleitorais, principalmente, nos países subdesenvolvidos.

Na disputa eleitoral, as posições parecem definidas devido a força política das oligarquias, sempre inseridas nas relações de poder. A pouca formação intelectual dos candidatos não faz a menor diferença.

Um jovem candidato, filho da burguesia local, não precisaria conhecer os aspectos formadores do cenário político, muito menos se preocupar em ajustar a sua ideologia pessoal com a nomenclatura da legenda partidária.

O entendimento comum aos jovens políticos é o ingresso em qualquer agremiação que represente os interesses do seu respectivo grupo. As siglas seguem a lógica dicotômica de conservadora ou progressista, de direita ou esquerda. Num primeiro momento, os estatutos sinalizam a linha política, mas os discursos e, principalmente, as práticas inviabilizam a coerência necessária.

Em modelos eleitorais como o brasileiro, existe um conceito velado que não se pode ganhar eleição sem comprar os votos dos eleitores. Tal premissa inviabiliza o processo democrático, descaracterizando a referência das siglas a democracia ou democracia cristã, considerando que democratas e cristãos não devem comprar votos.

Iniciativas populistas de sanear, pavimentar e eletrificar para favorecer a especulação imobiliária, promovendo desmatamento não poderiam ser associadas a bandeira de verde e sustentável.

Práticas como alianças com empresários em troca de possibilidades de negócios na máquina pública, negam as referências a trabalhadores, socialistas ou comunistas, pois os mesmos não devem ideologicamente reproduzir práticas burguesas. As rachadinhas nos salários dos assessores dos gabinetes e a negociação de cargos comissionados na administração direta como condutas costumeiras negam qualquer referência a propostas progressistas ou inovadoras.

Apoios a parcerias inescrupulosas no setor público com a prática de caixa dois, pedaladas fiscais, superfaturamento de obras públicas, descredenciam a ideia de cidadania, social-democracia que deveriam lutar por inclusão social.

Restrição de gastos com educação, privatização de setores essenciais da economia, liberalização de armamento, incentivo a formação de milícias negam o sentido de patriotas, republicanos que deveriam lutar por interesses nacionais.

De maneira genérica, membros de todas as agremiações acabam realizando algumas das práticas anteriormente descritas comprometendo a coerência do processo político partidário. Essa realidade confunde a população, principalmente, os jovens, a cada eleição menos interessados em entender a política nacional.

As diretrizes como: trabalho intermitente, restrição de gastos sociais, privatizações, liberação das remessas de lucros estrangeiros, escola sem partido, liberalização de armamentos precisam ficar muito claras nos estatutos das siglas partidárias.

Assim como: sustentabilidade, combate à fome e à pobreza, meritocracia do servidor público, investimentos em energias renováveis, defesa dos direitos humanos, inclusão social das minorias, ressocialização de presidiários, distribuição da renda, reforma agrária e regularização fundiária também precisariam ficar explicitadas nas respectivas agremiações.

Não existe neutralidade e os grupos organizados em partidos defendem objetivos comuns, possuindo a obrigação moral de revelar as suas propostas, sem máscaras, alienações, permitindo a população cobrar pelo que foi prometido. Evitando que direcionamentos racistas, homofóbicos, neonazistas, xenófobos, machistas, autoritários, intolerantes, milicianos sejam inseridos no conteúdo programático dos partidos políticos e passem a promover discursos de ódio, pouco construtivos para qualquer sociedade, tendo em vista o objetivo maior que é conquistar o desenvolvimento.

*Artigo publicado, em primeira mão, na coluna do professor Ésio Barros, no portal Só Política PB.

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Valter Nogueira

Valter Nogueira de Amorim, jornalista profissional, é o editor-chefe do blog. Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal da Paraíba (1988). Atuou nos principais jornais impressos do Estado, tais como A União, O Momento, Correio da Paraíba e O Norte. No campo administrativo, foi secretário de Comunicação da Prefeitura Municipal de Santa Rita (1997-2005), assessor de Imprensa da Prefeitura de Pedras de Fogo (2008). Exerceu, também, o cargo de gerente de Comunicação do Tribunal de Justiça da Paraíba, no período de fevereiro de 2015 a janeiro de 2019. No período de maio de 2024 a março de 2025, Valter Nogueira respondeu pela ASCOM do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba.