É sabido, desde a mais antiga civilização humana, que o homem é capaz de conhecer e que, portanto, pode acumular conhecimento ao longo do tempo. Entretanto, David Hume(1711-1776), filósofo escocês, não estava satisfeito apenas com a informação de que o homem é um ser cognitivo com o poder de conhecer, Hume se preocupou em tentar elucidar como esse conhecimento se processava na natureza humana, ou seja, ele procurou demonstrar como o entendimento humano se origina e, ainda, como é operado a capacidade humana de conhecer.
Bem, David Hume é um pensador empirista e, portanto, sustenta a ideia de que é impossível ao homem, adquirir algum conhecimento das coisas do mundo diferente daquele que é dado pela experiência, chegando a afirmar que nada se constitui na mente humana, sem que uma experiência sensitiva, por mais tênue que possa ocorrer, seja vivenciada.
Desta maneira, o Escocês afirma que todo conhecimento humano começa com as impressões sensoriais, de forma que a sensibilidade seria a instância responsável pelos dados imediatos que nos afetam através dos cinco sentidos, dados esses que seriam a matéria prima para a formação cognoscente do conhecimento humano.
Como já citei acima, para Hume, o conhecimento humano deve se submeter à experiência, e nesse sentido, ele se contrapõe ao racionalismo, especialmente na figura de René Descartes(1596-1650), que afirmava que a razão e os métodos racionais eram supervenientes para alcançar o conhecimento verdadeiro. E além disso defendia as ideias inatas como processo cognitivo. Na verdade, Hume não nega a razão nem a descarta, apenas a descredencia do poder hegemônico dado à razão pelos racionalistas em matéria de originar o conhecimento.
Assim, Hume se propõe a analisar a natureza humana em seu poder de conhecer e a relaciona com a sensibilidade do mundo empírico.
.Como resultado de seus estudos, ele chega a uma teoria, a qual defende que o conhecimento se dá através das PERCEPÇÕES da mente humana, e que estas se reduzem a dois gêneros distintos, que Hume denomina de IMPRESSÕES e IDEIAS. E afirma ainda, que a diferença entre elas consiste no grau de força e vividez com que atingem a mente e penetram em nosso pensamento ou consciência. As percepções que entram com mais força e violência podem ser chamadas de IMPRESSÕES; sob esse termo, ele inclui todas as nossas sensações, paixões e emoções, em sua primeira aparição à alma. Ao mesmo tempo, Hume denomina IDEIAS, as imagens, ou cópias atenuadas dessas IMPRESSÕES no pensamento e no raciocínio. Por exemplo, Eu não conheço “FULANO”. Quando sou apresentado ao FULANO pela primeira vez, capto através dos sentidos uma IMPRESSÃO dele, rosto, altura, roupa que usa, cor do cabelo, som da voz, nome etc. e essa IMPRESSÃO é viva, é forte porque está acontecendo agora. Em seguida, a IMPRESSÃO forte, viva que tive dele se converte em uma IDEIA, que é uma cópia atenuada, mais fraca, em termos de vivacidade da IMPRESSÃO que tive de FULANO e que é armazena da na memória para no futuro quando eu tornar a encontrar o FULANO ou alguém mencionar o nome dele.
David Hume confere, ainda, uma segunda divisão entre nossas PERCEPÇÕES, que se aplica tanto às IMPRESSÕES quanto às IDEIAS. Elas podem ser simples e complexas. As simples são aquelas impressões e ideias que não admitem nenhuma distinção ou separação. As complexas, ao contrário dessas, podem ser distinguidas em partes. Por exemplo, embora uma cor vermelha, um sabor e um aroma particular sejam todas qualidades de uma maçã, é fácil perceber que elas não são a mesma coisa, sendo distinguíveis umas das outras.
É importante salientar a semelhança que há entre nossas IMPRESSÕES e IDEIAS em todos os pontos, exceto em seus graus de força e vividez. As ideias são de alguma forma os reflexos das impressões, de modo que todas as percepções da mente são duplas, aparecendo como impressões e como ideias, de maneira que, quando fecho os olhos e penso em FULANO, as ideias que formo são representações exatas das impressões que antes senti.
O Escocês forma uma proposição geral sobre as percepções: “Todas as nossas ideias simples, em sua primeira aparição derivam de uma impressão simples, que lhes correspondem e que elas apresentam com exatidão.” Um exemplo disso, é que para dar a uma criança a ideia da cor vermelha ou do sabor doce ou amargo, apresento-lhes os objetos, ou, em outras palavras, transmito-lhes essas impressões; nunca faria o absurdo de tentar produzir as impressões excitando as ideias.
É importante, acrescentar também, que toda vez que somos privados das faculdades que geram determinadas impressões, como no caso de um cego ou de um surdo de nascença, perde-se não apenas as impressões, mas também suas ideias correspondentes, de modo que jamais aparece na mente nenhum traço de umas ou de outras. E, isso é verdade, não apenas quando há uma total destruição dos órgãos da sensação, mas igualmente quando estes nunca chegaram a ser acionados para produz uma impressão particular. Por exemplo, não somos capazes de formar uma ideia correta do sabor de uma fruta qualquer sem tê-la realmente provado antes.
Portanto, para o escocês David Hume, tudo aquilo que podemos vir a conhecer tem sua origem na experiência e nas percepções que se desdobram em impressões e ideias.
Marcos Nascimento (Mestre em Filosofia)