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Reflexões sobre o preconceito

O Brasil possui uma diversidade natural nas cinco regiões do país e a composição do povo brasileiro reúne pessoas de vários tipos, origens, sotaques, gêneros e religiões formando uma pluralidade riquíssima, mas infelizmente, existem pessoas que percebem essa diversidade não como fonte de riqueza, mas como motivo para criar empecilhos, barreiras para a construção de um povo unido e forte, e esses empecilhos e essas barreiras são frutos do preconceito. Neste contexto, trago uma reflexão sobre esse tema que se instalou em nosso país em virtude de haver aqueles que ao invés de olhar o outro como diferente, o veem como inferior, diminuído, insignificante, seja pela cor da pele, pela região de onde procedem, pela condição social, pela idade, gênero ou orientação sexual, como se considerasse que a cor da pele branca ou negra fosse uma opção a escolher ou nascer homem ou mulher fosse, igualmente, uma escolha.

Para mim, essa é uma consideração bizarra e sem sentido. Mas afinal, o que é o Preconceito? Na verdade, já pesquisei, li bastante e refleti muito sobre o tema, entretanto não vislumbrei nenhuma forma racional e lógica de enquadrá-lo como tal. Assim, parece ser algo fruto da ignorância, da falta de conhecimento suficiente para compreendê-lo, sem fundamento, sem sentido em sua plenitude e, isso por si só, já confirma um alto grau de ignorância sobre essa ideia pensada, porque representa uma adesão automática negativa sobre uma pessoa ou grupo de pessoas sem a devida reflexão.

A própria palavra “Preconceito” é auto explicativa e denuncia isso, ou seja, é formada pelo prefixo “Pré”, que significa anterior, antes e quando ligado ao sufixo “conceito” nos remete a um juízo, a um entendimento, só que esse juízo, esse entendimento é formado antes de sua conclusão, portanto inacabado, incompleto e indigno de ser levado a sério.

Em síntese, Preconceito é um termo que designa o ato de julgar, de emitir uma sentença sobre algo antes de se conhecer plenamente o que é esse algo julgado. Portanto, o preconceito não faz sentido, mas provoca muito mal para quem é o objeto do preconceito e este pode ser manifestado de várias formas como: Preconceito Racial, baseado na ideia de superioridade de uma raça sobre outra ou etnia. Este tipo mostra-se sob a forma de “racismo”; Preconceito de Gênero, baseado em uma cultura patriarcal que sustenta a ideia de dominação masculina e de que os homens são superiores às mulheres; Preconceito contra o idoso, etarismo ou idadismo; Preconceito Homofóbico, manifesta-se contra pessoas do grupo LGBTQIAP+; Preconceito Linguístico, consiste na discriminação sem fundamento contra variedades linguísticas e tem como objetivo pessoas que falam diferentes devido a algum motivo histórico ou cultural; Preconceito Religioso que é a discriminação pela prática religiosa e as religiões mais afetadas são as de matrizes africanas como candomblé, umbanda e xamanismo; Preconceito Social que está associado ao padrão de vida e poder aquisitivo de uma pessoa; Preconceito Estético que está relacionado às pessoas que são discriminadas porque a princípio não se encaixam num padrão de beleza e estética pré estabelecido pela própria sociedade.

Esses preconceitos têm origem nos valores ideológicos, interesses ou crenças de um determinado grupo social, e as pessoas desse grupo social ao olhar para o outro não enxergam a alteridade, ou seja, o outro, apenas observam-se, se enquadram no padrão preestabelecido por quem olha, e quando não se enquadram, não aceita o outro como ele é, não gosta do que vê e prefere enquadrá-lo fora desse padrão que pode ser a cor da pele, o gênero, a idade etc. E assim, não permite que o outro seja diferente daquilo que ele pensa, e não aceita a diversidade que se apresenta através da alteridade, e ainda como consequência surge o preconceito que, dependendo do grau, pode levar à discriminação, violência e exclusão.

Assim, vivemos num modelo de sociedade, no qual, um homem vale mais que uma mulher, um branco vale mais que um preto, um heterosexual vale mais que um homossexual, um magro vale mais que um gordo, um rico vale mais que um pobre e um idoso vale menos que um jovem.

Agora, vamos imaginar a seguinte situação: Uma mulher que é preta, e que além de preta é gorda e pobre. Essa situação representa o expoente máximo do preconceito. Não podemos e nem devemos aceitar isso, penso que uma convivência sadia em sociedade exige que adotemos um modelo de sociedade pautada pela noção de respeito e igualdade de existência, e para isso faz-se necessário afastar qualquer forma de intolerância, discriminação e preconceito.

Na Constituição Federal de 1988 está previsto o combate ao preconceito como parte dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil e em seu Art. 20 diz ser proibido: “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa”. Entretanto, apesar da proibição normativa, segundo pesquisa feita pelo Instituto Datafolha, houve um crescimento do número de pessoas que se dizem vítimas de preconceito no Brasil.

Em 2008, 23% dos brasileiros declararam já ter sofrido algum tipo de preconceito, seja em relação à raça, local de moradia, classe social ou orientação sexual. Em 2019, esse número saltou para 30%.

De acordo com a pesquisa, o preconceito de classe (classismo) é o tipo mais comum. Em consequência dos dados apresentados pela pesquisa, penso ser necessário que se desenvolva um projeto educacional para se adquirir uma consciência ética natural crítica, visando corroborar com o efeito da normatização. Nesse contexto, um indivíduo preconceituoso demonstra falta de conhecimento consciente ou inconsciente sobre aquilo que está julgando e daí a limitação da capacidade de visão da alteridade, e essa visão limitada reduz a possibilidade de alcançarmos uma relação honesta, respeitosa, transparente e de dignidade coletiva no meio social ao qual estamos inseridos.

E você, como percebe o preconceito?

Marcos Nascimento – Mestre em Filosofia

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Valter Nogueira

Valter Nogueira de Amorim, jornalista profissional, é o editor-chefe do blog. Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal da Paraíba (1988). Atuou nos principais jornais impressos do Estado, tais como A União, O Momento, Correio da Paraíba e O Norte. No campo administrativo, foi secretário de Comunicação da Prefeitura Municipal de Santa Rita (1997-2005), assessor de Imprensa da Prefeitura de Pedras de Fogo (2008). Exerceu, também, o cargo de gerente de Comunicação do Tribunal de Justiça da Paraíba, no período de fevereiro de 2015 a janeiro de 2019. No período de maio de 2024 a março de 2025, Valter Nogueira respondeu pela ASCOM do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba.