Em Filosofia, a arte de formular perguntas é essencial para que haja o ato do filosofar. Na verdade, as perguntas surgem na expectativa de conseguir uma resposta, entretanto a pergunta é mais importante do que a resposta. Quando alguém questiona com um “por que”, espera uma resposta, mas essa resposta sempre nos remete a outro “por que”, e entre um “por que” e outro, a humanidade vai construindo o conhecimento, e assim tem sido ao longo de sua existência, e esse conhecimento não para de ser acrescentado através de outros “por ques”…
Mas, isso não acontece só na Filosofia. Igualmente no nosso cotidiano, quando queremos saber algo na conversa entre amigos, ou quando estamos diante de uma pesquisa acadêmica, ou ainda quando reflexivamente perguntamos a nós mesmos como um “selftalk”, a pergunta demandada em todos esses casos é aquilo que nos direciona no caminho de algo que estamos buscando e só a formulamos porque ainda não temos aquilo que queremos ter, a saber, a resposta.
A pergunta nos mostra o caminho ou a direção para onde devemos seguir, e precisa ser bem formulada porque quando a pergunta não é objetiva, clara, a resposta dificilmente é satisfatória, já que uma resposta precisa e satisfatória deve necessariamente estar associada a uma pergunta clara, pontual. Assim, neste contexto, as perguntas, mais do que as respostas, preparam a mente das pessoas para a reflexão e o pensamento, e, enquanto tal, questionam acerca de tudo que nos cerca e de todos os nossos semelhantes, por exemplo, por que isso é assim e não de outro jeito? Por que X e por que não Y?
Penso que toda pergunta é uma inquietação, mas revela também uma humildade por parte de quem aceita que precisa perguntar, e a razão dessa pergunta é, ou porque não SABE, ou porque o que SABE não satisfaz plenamente.
Trago para corroborar com essa ideia, a frase “só sei que nada sei”, atribuída ao filósofo Sócrates, (470 a.C–399 a.C.), e que com certeza nos aponta para um incessante buscar e ao mesmo tempo representa uma atitude de humildade diante de uma totalidade de conhecimento que se apresenta. Sabemos que, gramaticalmente, perguntar é um verbo que necessariamente precisa de complemento, pois o ato de perguntar é sempre perguntar para alguém alguma coisa, e neste quesito, as crianças são MESTRAS, pois costumam fazer muitas perguntas à medida que estão descobrindo o mundo de coisas que as cercam.
Lembro que minhas filhas, quando crianças, perguntavam muito e sobre tudo: Por que isso? e por que aquilo? Era um bombardeio de perguntas todo o tempo. As crianças perguntam porque querem saber das coisas, porque estão descobrindo o mundo, porque querem entender aquilo que ainda não entendem. É interessante acrescentar que, assim como as crianças perguntam muito quando estão descobrindo o mundo que as cerca, igualmente, assim fizeram os primeiros filósofos, os chamados Pré-socráticos(sec VII ao sec V a.C.), quando deixaram de acreditar na Mitologia como explicação das coisas e passaram a perguntar, a buscar racionalmente aquilo que seria a constituição de todas as coisas, a saber, o “ARCHÉ”, ou seja, “a existência de um elemento primordial, originário, uma massa geradora de todos os seres”.
E, para a busca dessa resposta, desse “ARCHÉ”, os Pré-socráticos, ou seja, os primeiros a filosofar, fizeram a seguinte pergunta: Qual é o princípio geral de formação das coisas? E essa pergunta foi respondida com diferentes respostas até chegar na informação desejada e foi assim que para Thales de Mileto, esse princípio era a “ÁGUA”. Para Anaximandro era um elemento infinito e indefinível chamado “ÁPEIRON”. Para Anaxímenes, o princípio de tudo era o “AR”, e assim sucessivamente, até que os Pré-socráticos Leucipo e Demócrito, considerados os pais da Química, formularam que os “ÁTOMOS” seriam a menor partícula que daria origem de tudo. Essa teoria é válida até a contemporaneidade. E as perguntas continuam.
Para concluir, cabe mencionar, uma vez mais, que o ato de perguntar é sem dúvida, aquilo que impulsiona a alavancagem do conhecimento, e está sempre associado à curiosidade, à admiração, ao espanto, ao querer saber, ao querer conhecer, em suma, ao querer se desligar da ignorância em busca da luz do conhecer.
Marcos Nascimento – Mestre em Filosofia