Neste texto, abordamos como tema a LINGUAGEM, explorando seu conceito, suas formas de manifestação através dos signos, índices, ícones e símbolos, assim como sua importância capital no processo do desenvolvimento cognitivo humano. Então, o que é a linguagem? Bem, partindo de uma abordagem pragmática, podemos dizer que linguagem é qualquer forma utilizada para expressar ou representar o pensamento ou o sentimento do homem no ato de comunicar a seus semelhantes. E neste sentido, podemos apresentá-la em dois tipos, ou seja, uma linguagem verbal, a qual se utiliza das palavras para expressar os pensamentos ou os sentimentos, seja na forma oral ou escrita, e outra não-verbal, que pretere a palavra no processo de comunicação e a substitui por imagens, placas, desenhos, gestos, etc., ou dizendo de outra maneira, esses tipos de linguagem se caracterizam pelo tipo de signo que é utilizado na comunicação.
Assim, o signo pode ser entendido como aquilo que está no lugar do objeto, da coisa que ele representa e pode assumir aspectos variados, a saber: O ícone é um tipo de signo que apresenta relação de semelhança como por exemplo, a foto, a desenho, a palavra onomatopéica; O índice, é o signo que apresenta a relação de causa e efeito, por exemplo, fumaça e fogo ou nuvens e chuva; E por fim, o símbolo, que apresenta uma relação arbitrária com o objeto.
É importante frisar que só o homem é capaz de estabelecer signos arbitrários, ou seja, regidos por convenções sociais. Tomemos por exemplo, a palavra “CASA”. Não há nada no som nem na forma escrita que nos remeta ao objeto por ela representado. Então, designar esse objeto pela palavra casa é um ato arbitrário, no sentido de que, a partir do momento em que não há nenhuma relação entre o signo CASA e o objeto por ele representado, necessitamos de uma convenção aceita pela sociedade, de que aquele signo representa aquele objeto. E só a partir dessa aceitação é que nós poderemos nos comunicar, sabendo que, todas as vezes que usamos a palavra CASA, nosso interlocutor entende o que queremos expressar.
Desse modo, é importante dizer que, na medida em que esse laço entre representação e objeto representado é arbitrário, ele é necessariamente uma construção da razão. A linguagem, portanto, é produto da razão e só pode existir onde há racionalidade. No momento em que nomeamos qualquer objeto da natureza, nós o individuamos, o diferenciamos dos outros objetos que o cercam; ele passa a existir para a nossa consciência e com esse simples ato de nomear, distanciamo-nos da inteligência concreta animal e entramos no mundo do simbólico.
Neste contexto, o nome é símbolo dos objetos que existem no mundo natural e das coisas abstratas que só têm existência no nosso pensamento, como por exemplo, tristeza, beleza, liberdade.
Um importante papel do nome é tornar presente para a nossa consciência o objeto que está longe de nós. Assim, o perfume da pessoa amada ou o rosto de um amigo querido que está distante pode ser aproximado pela consciência através da pronúncia de uma palavra que represente essa pessoa querida, ou melhor dizendo, não precisamos mais da existência física das coisas, criamos através da linguagem, um modo estável de ideias que nos permite lembrar o que já foi e projetar o que será. Com isso, está instaurada a temporalidade no existir humano. Pela linguagem, o homem deixa de reagir somente ao presente, ao imediato, e passa a poder pensar o passado e o futuro.
Por tudo que afirmamos acima, dizemos que o mundo humano é simbólico, ou seja, movido pelo símbolo, pois os demais animais são capazes de entender ícones e índices, mas muito limitadamente o símbolo E, é essa linguagem simbólica que proporciona a identidade do homem, pois como disse Martin Heidegger, a linguagem é a morada do SER. O que Heidegger quer dizer com isso? Bem, acreditamos que significa uma identificação ontológica entre SER e LINGUAGEM. E, nesse sentido, tudo o que existe, tudo o que é, só é, e só existe, porque pode ser dito. Por isso, a linguagem, casa do ser, é o fundamento desde onde emerge o real. Assim, podemos dizer que por ser o homem um ser que pensa e se expressa pela fala, a palavra, ou seja, o símbolo, se encontra no limiar do universo humano, pois é a palavra que caracteriza fundamentalmente o homem e o distingue dos demais animais.
Por fim, há um ponto a ser abordado, e este é sobre a importância da linguagem no desenvolvimento cognitivo humano. Um exemplo marcante dessa importância é trazida pelo escritor Graciliano Ramos na obra “Vidas Secas”. É triste o exemplo que nos dá através de Fabiano, personagem principal. A pobreza de seu vocabulário prejudica a tomada de consciência a que é submetido, e a intuição que tem de sua situação não é suficiente para ajudá-lo a reagir de outro modo, ou seja, pobreza no falar, pobreza no pensar, impotência no agir. Para concluir, se a palavra, que distingue o homem de todos os seres vivos, se encontra enfraquecida na possibilidade de expressão, é o próprio homem que se desumaniza
. Marcos Nascimento – Mestre em Filosofia