A Folha de S. Paulo, em Editorial publicado nesta quinta-feira (10), torna pública a opinião do veículo ante a ameaça do presidente americano, Donald Trump, de impor tarifas de 50% aos produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. No Editorial, a Folha rechaça duramente a tentativa de Trump de intimidar o Brasil com ameaças de tarifas comerciais como forma de interferir no julgamento de Jair Bolsonaro (PL).
Para o jornal, trata-se de uma “chantagem rasteira” que não deve surtir efeito sobre um Poder Judiciário soberano e independente. “Cogitar de que o Judiciário de uma nação soberana e democrática, que opera com independência, deixará de processar quem quer que seja para livrar o país de retaliações econômicas dos Estados Unidos não passa de devaneio autoritário”.
O Editorial destaca que a manifestação de Trump pode até ter como objetivo fortalecer Bolsonaro no julgamento em que ele é acusado de tramar um golpe de Estado, mas tende a fracassar. O jornal avalia que, se a intenção do presidente norte-americano era apoiar também o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para a eleição de 2026, o efeito pode ser justamente o oposto. A tentativa de interferência externa apenas agrava a situação do ex-presidente brasileiro perante a Justiça e a opinião pública.
O jornal aponta que, ao ameaçar impor tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras, Trump atinge diretamente setores estratégicos da economia nacional, provocando prejuízos concretos a empresas e trabalhadores. Isso torna politicamente insustentável para lideranças locais se alinharem a esse tipo de ameaça. “Vai ser difícil ficar do lado de quem patrocina uma agressão estrangeira à soberania e aos empregos brasileiros”, pontua a Folha.
Nessa linha, o jornal cobra posicionamento claro de figuras como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Para a Folha, Tarcísio deve decidir se continuará se submetendo aos interesses de Bolsonaro e Trump ou se passará a defender os interesses dos exportadores paulistas e da soberania nacional. “Ou bem Tarcísio defende os exportadores paulistas e a soberania brasileira ou continua posando de joguete de boné de um agressor estrangeiro e da família Bolsonaro”, alfineta o editorial.
Mentiras e incoerências
A carta enviada por Donald Trump para justificar o ataque comercial é, segundo o texto, “repleta de mentiras e incoerências”.
A Folha argumenta que o Brasil não contribui para o déficit comercial dos EUA — ao contrário, os Estados Unidos têm superávit na balança com o Brasil há anos. Além disso, Trump se diz defensor da liberdade de expressão no Brasil, mas “lá manda deportar quem emite opiniões consideradas erradas pela Casa Branca”.
Bravatas
O jornal lembra, ainda, que Trump tem um histórico de bravatas não cumpridas, com ameaças tarifárias que não saem do papel e que, se efetivadas, causariam grandes danos à própria economia norte-americana. “Se trata de um imposto sobre os seus consumidores”, pontua a Folha.
Postura do Governo Lula
A publicação elogia a resposta do governo brasileiro à ameaça, considerando-a “sóbria” e estratégica. Ressalta que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem agido com “sangue frio” diante da investida norte-americana. Apesar de ter poderes para retaliar, conferidos por legislação recente aprovada pelo Congresso Nacional, o governo Lula prefere utilizar tais instrumentos apenas em situações extremas.