O Brasil se consolidou como o segundo país que mais recebeu investimentos diretos da China no primeiro semestre de 2025, atrás apenas da Indonésia. É p que revela dados do China Global Investment Tracker, plataforma mantida pelo think tank norte-americano American Enterprise Institute (AEI), divulgados pelo jornal O Globo.
A movimentação reforça a estratégia chinesa de ampliar presença em mercados emergentes, enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, intensifica barreiras comerciais contra o Brasil.
O levantamento mostra que, de janeiro a junho, empresas chinesas investiram US$ 22 bilhões em diferentes países, sendo US$ 2,6 bilhões na Indonésia e US$ 2,2 bilhões no Brasil, alta de 5% em relação ao mesmo período de 2024. Desde 2005, o Brasil já figurava entre os principais destinos dos aportes chineses, sustentado por sua abundância em matérias-primas, carência em infraestrutura e grande mercado consumidor.
Agro e mineração
Entre os projetos recentes, a Cofco, gigante chinesa do agronegócio, finaliza a construção de um terminal de granéis sólidos no Porto de Santos, após investir R$ 1,2 bilhão em material ferroviário e aportar mais R$ 1 bilhão em infraestrutura portuária.
Na mineração, empresas chinesas avançaram em aquisições estratégicas:
A MMG, ligada à estatal China Minmetals, destinou até US$ 500 milhões para assumir minas de níquel da Anglo American;
A China Nonferrous comprou a Mineração Taboca por US$ 340 milhões;
A Huaxin Cement adquiriu a Embu, fornecedora de pedras para construção civil, por US$ 186 milhões;
A Baiyin Nonferrous assumiu a Mineração Vale Verde, produtora de cobre em Alagoas, num negócio de US$ 420 milhões.
Esses aportes reforçam o interesse chinês em minerais estratégicos, fundamentais para a transição energética e a indústria de alta tecnologia.
Diversificação de setores
O Brasil também tem atraído investimentos em áreas além da infraestrutura e matérias-primas. No setor automotivo, a GWM inaugurou fábrica em Iracemápolis (SP), com plano de aplicar R$ 10 bilhões até 2032. A GAC começou a vender carros elétricos no país, enquanto a BYD, que já mantém unidade na Bahia, aposta pesado em publicidade, chegando até à novela Vale Tudo, da TV Globo.
Já a Geely abriu sua primeira concessionária no Brasil, além de adquirir 26% da subsidiária da Renault, em uma operação de US$ 720 milhões. No setor de serviços, a expansão passa por aplicativos de entrega, com destaque para a 99, controlada pela Didi, e a Keeta, da Meituan, que anunciou R$ 5,6 bilhões em investimentos.
Segundo Tulio Cariello, diretor do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), essa diversificação mostra uma mudança de perfil:
“Temos a questão das matérias-primas, que ainda é importante, mas o foco no mercado consumidor é muito evidente quando se fala do carro elétrico e, agora, nos investimentos em aplicativos de entrega”.
Impactos da guerra comercial e riscos para o Brasil
Para o economista Derek Scissors, autor do China Global Investment Tracker, o movimento chinês também é resultado das restrições impostas por países ricos desde o primeiro governo Trump:
“Os investidores chineses permanecem intensamente interessados nas commodities do Brasil. Minério de ferro, soja, petróleo. O Brasil é abençoado com o que a China precisa. Em troca, a China ajudará a construir infraestrutura de energia e outras”.
A China também avança no comércio com o Sul Global, cujas exportações ultrapassaram US$ 1,5 trilhão em 2024, superando em mais de 50% o valor destinado a EUA e Europa Ocidental, de acordo com relatório da Standard & Poor’s.