Os governos dos Estados Unidos e Brasil iniciam um movimento de reaproximação, após semanas de tensão que levaram Brasil e Estados Unidos ao pior momento de sua relação em décadas, segundo revela o diplomata americano Thomas Shannon, embaixador dos EUA no Brasil, em recente entrevista à BBC News Brasil.
A aproximação marca uma guinada na postura de Trump, que, em julho, havia imposto uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e condicionado a normalização das relações à suspensão do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu aliado político. Mas o que motivou a reviravolta?
Na entrevista à BBC, o ex-embaixador Thomas Shannon aponta dois principais fatores. O primeiro, segundo ele, é o reconhecimento de Trump de que não conseguiria interferir no processo judicial de Bolsonaro.
“Trump sabe que sua tentativa de proteger Bolsonaro da prisão e garantir que ele pudesse disputar eleições fracassou”, afirma o diplomata.
Mesmo após Trump impor as tarifas contra o Brasil e sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) baseadas na Lei Magnitsky, Bolsonaro foi condenado pela corte a 27 anos e 3 meses de prisão por golpe de Estado e outros crimes.
A segunda razão, segundo Shannon, é que Trump foi convencido de que as tarifas sobre produtos brasileiros prejudicariam empresas e consumidores americanos.
“Acho que o presidente foi exposto, por meio do setor privado americano, a uma espécie de curso intensivo sobre o impacto que essas tarifas teriam no dia a dia de muitos americanos”, diz o diplomata na entrevista.
Para o diplomata, Trump sentiu que estava mal-informado ou foi induzido ao erro ao sancionar o Brasil, e assumiu para si a responsabilidade de reverter o quadro.
“O que ele fez, ao estilo Trump, foi transformar um problema bilateral entre dois países em um encontro pessoal positivo, e usou esse encontro para mudar o tom da conversa entre os dois países”, diz.
“No mundo da diplomacia, isso é um movimento muito inteligente”, afirma.
No entanto, Shannon não acredita que essa reaproximação signifique a reversão das sanções contra ministros do STF e outras figuras políticas. Na visão dele, as negociações entre EUA e Brasil devem se concentrar em questões econômicas.
Thomas Shannon – Diplomata de carreira, Shannon foi embaixador dos EUA no Brasil entre 2009 e 2013, nomeado pelo então presidente Barack Obama.
Também ocupou o cargo de Subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental — principal posto diplomático dos EUA para a América Latina — e, posteriormente, o cargo de Subsecretário de Estado para Assuntos Políticos, a terceira posição mais alta da chancelaria americana.
Ele se aposentou do serviço público em 2018 e hoje atua como assessor sênior de Política Internacional no escritório de advocacia americano Arnold & Porter, contratado pelo governo brasileiro para tentar reverter as tarifas em Washington.
Questionado sobre sua atuação no caso, disse que não poderia comentá-la por questões contratuais.