Comunicação é, a rigor, o processo de troca de mensagens entre duas ou mais pessoas. No entanto, é preciso que os entes envolvidos em tal processo falem a mesma linguagem. E, mesmo assim, por vezes há mal-entendidos. Nesse diapasão, em defesa do bom jornalismo, onde a verdade deve sempre prevalecer, devo dizer que, as vezes – mesmo sem intenção –, nós outros jornalistas/articulistas não atingimos totalmente, de forma clara, o que realmente queremos dizer.
Não é fácil traduzir em palavras pensamentos, fatos e acontecimentos do dia a dia. No entanto, na escrita, é preciso ter clareza!
Quando a ideia não fica bem clara para o público leitor, logo recebemos comentários, críticas e sugestões. A crítica construtiva é sempre bem-vinda; vem para retificar, melhorar e, por vezes, enriquecer o texto.
Foi o que aconteceu com o meu mais recente artigo intitulado “Violação, desobediência e exposição ao ridículo’, publicado no blog do Valter Nogueira, nesta segunda-feira (24).
A princípio, esclareço que a análise não teve a intenção de comentar o mérito do processo que levou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a decidir por transformar a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro em prisão preventiva. Não, o artigo não foi construído com tal intenção!
A ideia foi comentar o evento em si – violação da tornozeleira – , com reflexo na seara política. A propósito, classifico o ato como vexatório para um ex-presidente – grandes líderes mantém a postura e firmeza mesmo na prisão!
No entanto, amigos e colegas de profissão me alertaram que o artigo, por conta de uma frase mal colocada, pode induzir o leitor a pensar que a violação da tornozeleira eletrônica teria sido a causa principal da prisão preventiva de Bolsonaro.
De pronto, afirmo que a violação da tornozeleira não foi o motivo principal da prisão preventiva de Bolsonaro, embora o ministro cite a ocorrência do fato (violação da tornozeleira) na sua decisão.
Relendo o artigo, é possível perceber que procuro analisar o fato muito mais pelo viés político; o dano que a violação constatada – e admitida pelo ex-presidente – pode causar no já enfraquecido núcleo político bolsonarista.
Em razão das ponderações, as quais considero pertinentes, decidi redigir este artigo como reparo ao pecado cometido (falta de clareza) no artigo anterior.
Reparo
À luz da decisão do Ministro Moraes, o motivo principal da decretação da prisão preventiva foi a “vigília” convocada pelo senador Flávio Bolsonaro e tudo que ela, supostamente, poderia causar.
Confira parte da decisão:
“Embora a convocação de manifestantes esteja disfarçada de “vigília” para a saúde do réu JAIR MESSIAS BOLSONARO, a conduta indica a repetição do modus operandi da organização criminosa liderada pelo referido réu, no sentido da utilização de manifestações populares criminosas, com o objetivo de conseguir vantagens pessoais. Neste caso, a eventual realização da suposta “vigília” configura altíssimo risco para a efetividade da prisão domiciliar decretada e põe em risco a ordem pública e a efetividade da lei penal.
O tumulto causado pela reunião ilícita de apoiadores do réu condenado tem alta possibilidade de colocar em risco a prisão domiciliar imposta e a efetividade das medidas cautelares, facilitando eventual tentativa de fuga do réu.”
Em seguida, o ministro destaca:
“Importante destacar, ainda, que o condomínio do réu está localizado a cerca de 13 km (treze quilômetros) do Setor de Embaixadas Sul de Brasília/DF, onde fica localizada a embaixada dos Estados Unidos da América, em uma distância que pode ser percorrida em cerca de 15 (quinze) minutos de carro. Rememoro que o réu, conforme apurado nestes autos, planejou, durante a investigação que posteriormente resultou na sua condenação, a fuga para a embaixada da Argentina, por meio de solicitação de asilo político àquele país.”
Por fim, Alexandre cita a violação da tornozeleira eletrônica:
“Além disso, o Centro de Integração de Monitoração Integrada do Distrito Federal comunicou a esta SUPREMA CORTE a ocorrência de violação do equipamento de monitoramento eletrônico do réu JAIR MESSIAS BOLSONARO, às 0h08min do dia 22/11/2025. A informação constata a intenção do condenado de romper a tornozeleira eletrônica para garantir êxito em sua fuga, facilitada pela confusão causada pela manifestação convocada por seu filho.”
Por Valter Nogueira