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O que aconteceu com o PSOL?

Por Gilson Marques Gondim

Em dezembro de 2003, a senadora Heloísa Helena e os deputados federais Luciana Genro, Babá e João Fontes foram expulsos do PT, por terem se insurgido contra a reforma da Previdência apresentada pelo governo Lula e parcialmente aprovada pelo Congresso.
Incomodou-os, principalmente, a decisão, aprovada pelos legisladores, de fazer os aposentados pagarem a taxa previdenciária de 8% (pois é, não foi FHC nem Temer nem Bolsonaro; foi Lula).
Em julho de 2004, os quatro expulsos e muitos outros ex-petistas fundaram o PSOL, o Partido Socialismo e Liberdade, que nascia para ser uma oposição de esquerda ao lulopetismo, acusado de direitismo pelos fundadores do novo partido.

Em setembro de 2005, por causa do escândalo do Mensalão, o PSOL ganhou a adesão de mais cinco deputados federais petistas, que choraram (literalmente) em frente às câmeras depois do depoimento do publicitário Duda Mendonça à CPI dos Correios, que investigava o Mensalão.

No ano seguinte, 2006, a senadora Heloísa Helena foi a candidata do partido à Presidência.
Obteve mais de 6,5 milhões de votos, quase 7% dos votos válidos, fazendo duros ataques ao lulopetismo.
No segundo turno, a senadora e o partido não apoiaram nem Lula nem Alckmin.
Heloísa Helena tentou voltar ao Senado em 2010 e em 2014, mas foi derrotada por candidatos do Centrão, aliados dos governos Lula e Dilma, a “fina flor” da direita alagoana, que usaram fartamente contra ela os ataques que ela fizera a Lula na campanha de 2006.

Em 201O, o PSOL deu “apoio crítico” a Dilma Rousseff no segundo turno, “para evitar o retorno da direita”.
Em 2014, a candidata Luciana Genro, que teve 1,6 milhão de votos no primeiro turno, declarou que não votaria nem em Dilma nem em Aécio Neves.
O partido recomendou o voto nulo, em branco ou em Dilma.
Quatro dos cinco deputados federais (hoje são dez) declararam voto em Dilma, contra Aécio.
Um desses deputados era o notório Jean Wyllys, que se reelegeria por muito pouco em 2018, mas renunciaria ao mandato declarando que corria risco de morte e tinha que deixar o país.
Quem herdou seu mandato foi David Miranda, o marido de Glenn Greenwald, o hoje nacionalmente famoso jornalista americano aqui residente.

Em 2018, a oposição de esquerda se tornara notícia velha, página virada, assim como o “apoio crítico”.
O candidato Guilherme Boulos, que teve apenas 617 mil votos (0,58%), atuou alegremente como linha auxiliar de Fernando Haddad, a quem deu no segundo turno (ele e o partido) um apoio nada crítico, entusiasmado.

Alguns meses antes eu conversara com um caixa do Banco do Brasil no posto do Fórum Cível de João Pessoa.
Eu fui lá para receber uma indenização que ganhara na Justiça contra o jornal Correio da Paraíba e o jornalista Cláudio Humberto, ex-porta-voz de Collor.
Sendo ele filiado ao PSOL, eu questionei a “evolução” do partido, de oposição de esquerda a linha auxiliar do lulopetismo, passando pelo “apoio crítico”.
Perguntei: “Como se explica que vocês não engoliram o Mensalão e agora engolem Mensalão, Petrolão e tudo o mais?”
Ele me deu razão, disse que já tinha discutido isso internamente e atribuiu a “evolução” ao fato de que o PSOL quase todo é oriundo do PT, diferentemente dele, que chegou ao PSOL vindo do antigo PCB, o Partido Comunista Brasileiro.

Da minha parte, eu lamento muito que o PSOL tenha se transformado nisso em que se transformou, tendo tido um início que parecia tão auspicioso.

(Gilson Marques Gondim – Sociólogo, escritor e mestre em Ciências das Religiões)

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Valter Nogueira

Valter Nogueira de Amorim, jornalista profissional, é o editor-chefe do blog. Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal da Paraíba (1988). Atuou nos principais jornais impressos do Estado, tais como A União, O Momento, Correio da Paraíba e O Norte. No campo administrativo, foi secretário de Comunicação da Prefeitura Municipal de Santa Rita (1997-2005), assessor de Imprensa da Prefeitura de Pedras de Fogo (2008). Exerceu, também, o cargo de gerente de Comunicação do Tribunal de Justiça da Paraíba, no período de fevereiro de 2015 a janeiro de 2019. No período de maio de 2024 a março de 2025, Valter Nogueira respondeu pela ASCOM do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba.