Por Marcos Antônio
Este texto tem por finalidade aclariar o significado da palavra RAZÃO no contexto da Filosofia, assim como abordar os quatro princípios racionais que permitem que a gente use a RAZÃO de forma a tornar compreensível a realidade das coisas e fatos, ou seja, permita que a Filosofia se realize como conhecimento racional da realidade natural e cultural das coisas e dos seres humanos.
Entretanto, no dia a dia usamos a palavra RAZÃO em muitos sentidos, a saber: Se a Fátima Viana pergunta ao Celso, “o que é RAZÃO?”, provavelmente pela formação que tem das ciências exatas, uma resposta possível seria que RAZÃO é o quociente entre dois números, ou seja, que a razão entre dois números é dada pela sua divisão, obedecendo a ordem na qual foram dados.
Por exemplo, nosso grupo de Whatsapp tem 21 integrantes, sendo dez mulheres, então 10/21 é igual a 0,47. Igualmente, se eu pergunto a Baia o que é RAZÃO, ela poderia responder que é causa ou motivo de uma ação ou atitude. Ou ainda, se Garibaldi diz que Maria da Luz está com RAZÃO, talvez ele queira dizer que ela está segura de alguma coisa, ou que ela sabe alguma coisa com certeza.
Há igualmente a possibilidade de que Wânia diga que num momento de fúria “alguém perde a RAZÃO”, como se a razão fosse alguma coisa que se pode ter ou não ter, possuir e perder.
Se minha mãe estivesse ainda conosco, e eu fizesse essa mesma pergunta a ela, talvez pela experiência de seu trabalho com a contabilidade, ele viesse a responder que RAZÃO é um livro de contabilidade, chamado LIVRO-RAZÃO que é destinado a receber lançamentos de todas as operações contábeis de uma empresa.
Bem, todos esses sentidos dados à palavra RAZÃO cabem e se encaixam na nossa linguagem cotidiana e contempla um significado que usamos para nos expressar e todos constituem uma ideia de RAZÃO diferente.
Entretanto, Filosófica e etimologicamente a palavra RAZÃO tem um sentido estrito e origina se de duas fontes, a palavra grega LOGOS e a palavra latina RATIO. Essas duas palavras têm um sentido muito parecido em grego e em latim respectivamente. LOGOS quer dizer contar, reunir, juntar, calcular. E, RATIO quer dizer contar, reunir, medir, juntar, calcular. E assim, quando medimos, juntamos, separamos, contamos e calculamos, pensamos de modo ordenado. Por isso, LOGOS, RATIO ou RAZÃO significam na Filosofia o pensar e falar ordenado, com medida e proporção, com clareza e de modo compreensível para os semelhantes entenderem.
Assim, na origem, RAZÃO é a capacidade intelectual para pensar e exprimir, pensar e dizer as coisas tais como são. A RAZÃO é uma maneira correta e clara de organizar a realidade pela qual esta se torne compreensível. Desde o começo da Filosofia, a origem da palavra RAZÃO fez com que ela fosse considerada oposta ao conhecimento ilusório, ou seja, ao conhecimento da mera aparência das coisas que não alcança a realidade. As ilusões criam as OPINIÕES que variam de pessoa para pessoa.
Já citei acima que a RAZÃO organiza a realidade para que esta se torne compreensível e faz isso obedecendo quatro Princípios Racionais, ou seja, o conhecimento racional obedece a certas regras ou leis fundamentais que sempre respeitamos ao pensarmos e falarmos, até mesmo quando não conhecemos esses princípios.
São eles: Princípio da Identidade, Princípio da Não-Contradição, Princípio do Terceiro Excluído e o Princípio da Razão Suficiente. 1) Princípio da Identidade enuncia o óbvio, que “A é A”, ou seja, “O que é, é”.
O Princípio da Identidade é a condição do pensamento e sem ele não podemos pensar. Se eu perguntar, ” o que é um socram?”, com certeza ninguém saberia responder pelo fato de que essa palavra foi inventada por mim, é Marcos escrito ao contrário. É uma palavra sem significado, vazia, sem relação significativa com algo do mundo concreto ou abstrato, não possui uma identidade.
Ao contrário, quando digo “pedra, água, triângulo”, essas são palavras que podem ser conhecidas e pensadas porque são percebidas e conservadas com suas identidades e têm uma relação de significado com coisas concretas ou abstratas.
Quando o triângulo foi definido como uma figura de três lados e três ângulos, nenhuma outra figura sem essa identidade pode ser chamada de triângulo. Então, o Princípio da Identidade é a condição para que definamos as coisas e possamos conhecê-las a partir de suas definições.
2) Princípio da Não-Contradição diz que “A é A e é impossível que seja, ao mesmo tempo e na mesma condição, Não-A”. Então, é impossível que a árvore que vejo seja e não seja uma bananeira, ou que meu animal de estimação, seja e não seja um gato. Sem esse Princípio, o Princípio da Identidade não poderia funcionar. Esse Princípio afirma que as coisas e as ideias contraditórias são impensáveis e impossíveis.
3) Princípio do Terceiro Excluído tem o seguinte enunciado: “Ou A é x ou é y e não há terceira possibilidade” Por exemplo, “ou este homem é Marcelo ou não é Marcelo”. Este Princípio define racionalmente a decisão de um dilema, “ou isto, ou aquilo”, e exige que apenas uma das alternativas seja verdadeira.
4) Princípio da Razão Suficiente ou Princípio da Causalidade, afirma que tudo o que existe e tudo o que acontece tem uma causa, um motivo para existir ou acontecer, e que tal causa pode ser conhecida por nossa RAZÃO. Pode ser enunciado como “dado A, necessariamente se dará B” e “dado B, necessariamente, houve A”.
A RAZÃO enseja uma corrente de pensamento filosófico chamada Racionalismo que é questionada por outra linha de pensamento chamada Empirismo.