Por Valter Nogueira
Uma das estratégias de campanha eleitoral é monitorar as ações do adversário, isso com inteligência e informação. Todavia, cabe ao staff do comitê de campanha do candidato desempenhar tal papel. No entanto, a ação nunca deve ser feita com a utilização da estrutura de governo. Nesse caso, é crime eleitoral – fere a isonomia do pleito.
Em recente entrevista à TV Record, o ex-presidente Jair Bolsonaro negou envolvimento com a ideia de infiltrar agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na campanha do então candidato Lula (PT). Porém, ele atribui a iniciativa ao ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general da reserva Augusto Heleno.
Nota-se que Bolsonaro não negou a suposta ação ilegal, apenas atribuiu o suposto ilícito ao seu auxiliar – no caso, o general Heleno.
A ideia de promover a suposta ação ilícita foi mencionada por Heleno durante a reunião de Bolsonaro com seus ministros, realizada no dia 5 de julho de 2022, cujo vídeo foi apreendido pela Polícia Federal e divulgado pelo Supremo Tribunal Federal no 9 de fevereiro próximo passado.
“Em dado momento (da reunião), o Heleno falou que ia seguir os dois lados, o Heleno falou que ia seguir os dois lados, se inteirar dos dois lados. É o trabalho da inteligência dele, que eu não tinha participação nenhuma”, disse Bolsonaro na entrevista à TV Record.
Não é atribuição de Gabinete de Segurança Institucional (GSI) se meter em assuntos de campanha, muito menos monitorar adversário.
Reunião
A citada reunião aconteceu no Salão Leste, no segundo andar do Palácio do Planalto. A gravação foi obtida pelo STF com o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que fechou acordo de delação premiada em setembro do ano passado.
As informações de Cid foram usadas pela PF para deflagrar a operação Tempus Veritatis, na última quinta-feira, deia 8 de fevereiro de 2024.
Uso da máquina
Ao que tudo indica, nas eleições de 2022 o então presidente Jair Bolsonaro lançou mão da estrutura de governo em favor de sua campanha à reeleição. No mínimo, saiba das intenções de Heleno.
Reflexão
Ditadores são, 99%, covardes – já mencionei isso em artigos anteriores. Por serem fracos e medíocres, tentam aparecer fortes quando estão no poder. Eles agem sob escudo de proteção. Por essa razão, usam pessoas para executar seus planos; tomam todo cuidado para que suas digitais não apareçam nas maldades, nos ilícitos e nos crimes cometidos sob suas ordens.