Por Kelyanne Carvalho
Ao pensar em adoção, logo imaginamos uma criança triste, abandonada, cheia de traumas, medos e inseguranças. Do outro lado, um ser humano incrível, cheio de amor, paciência e luz para fazer tamanha caridade. Mas, não é bem assim! Isso porque, apesar de ser um ato nobre, adotar não é uma caridade. É preciso envolvimento e transformação de ambas as partes. Se o seu desejo é meramente ajudar uma criança ou adolescente, você pode optar pelo apadrinhamento.
Com 32 anos de experiência profissional na área, o juiz Adhailton Lacet, colaborador da Coordenadoria da Infância e Juventude do TJPB e titular da 1ª Vara da Infância e Juventude de João Pessoa, explica que “na caridade, não esperamos nada em troca. Quando ajudamos alguém a recompensa é uma sensação de conforto, de bem-estar interno, não esperamos nada da parte de quem recebe a caridade”. Essas sensações podem ser vivenciadas através do apadrinhamento de uma criança, adolescente ou até mesmo um adulto vulnerável, a exemplo de um idoso.
O ato de adotar exige muito mais no que se refere aos sentimentos. Todo o processo é mais burocrático, envolve muita responsabilidade e vínculo jurídico. “Ao adotar, o que se espera é a construção de vínculos de ambas as partes. A relação parental-filial é uma relação biunívoca, exige envolvimento e transformação dos dois lados”, frisa o juiz Lacet.
Procura por Adoção
De acordo com o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), no âmbito nacional, há 32.882 pretendentes disponíveis para adoção, enquanto apenas 4.213 crianças e adolescentes disponíveis.
Na Paraíba, são 447 pretendentes para apenas 57 crianças e adolescentes disponíveis para adoção.
Essa diferença nos números dar-se devido a procura pela idealização da “criança perfeita”. É que o SNA permite que o pretendente faça escolhas como etnia, sexo, cor de pele, criança com doença ou não tratável, grupo de irmãos, etc. Isso acaba causando uma demora maior no processo de adoção.
“A maioria dos pretendentes ainda prefere a criança até dois anos de idade, do sexo feminino e cor clara. Então essa criança idealizada por todos demora a chegar, deixa o número bem maior”, afirma o juiz.
O apadrinhamento pode dar-se então, inclusive, para quem tem a intenção de adotar. No entanto, “quem apadrinha não pode adotar a mesma criança em questão, pois as crianças disponíveis para o apadrinhamento são as com pouca ou nenhuma possibilidade de adoção. Elas não estão destituídas do poder familiar e sim passando um tempo na instituição, enquanto se reestrutura a sua família, podendo nesse tempo ser apadrinhada nas três modalidades (afetiva, social e financeira).
Mais sobre o apadrinhamento
O apadrinhamento trata-se de uma prática solidária de apoio afetivo às crianças/adolescentes que vivem em instituições de acolhimento e que não necessariamente estão à disposição para a adoção, mas façam parte de um perfil de difícil colocação em família, natural ou substituta, ou seja, que tenham acima de oito anos ou quando, em qualquer idade, possuírem deficiência física ou mental ou, ainda, quando fizerem parte de grupo de irmãos.
Através do apadrinhamento, é dado àquela criança ou adolescente a oportunidade de fazer passeios fora da casa de acolhimento, ter auxílio com tarefas da escola, ser levado a consultas médicas, passar finais de semanas e férias com as pessoas que escolheram ser seus padrinhos, terem cursos financiados, mas sem o vínculo jurídico de adoção como pai e mãe.
Por meio dessa experiência, essas crianças e adolescentes poderão vivenciar a vida em família, participando de atividades cotidianas com o (s) padrinho (s) afetivo (s), ter o incentivo na educação, na formação profissional e ter ajuda na construção de seus planos de vida.
Dessa forma, o apadrinhamento pode ser afetivo, social e financeiro.
Conheça o NAPSI
A 1ª Vara da Infância e da Juventude da Comarca de João Pessoa criou, através da Portaria nº 001/2017, publicada no Diário de Justiça Eletrônico edição de 03.05.2017, o Núcleo de Apadrinhamento Afetivo Sorriso Infantojuvenil (NAPSI).
O NAPSI funciona das 12h às 19h, de segunda a quinta-feira e, na sexta-feira, das 7h às 14h, na sede do Fórum da Infância e da Juventude da Comarca de João Pessoa, localizado na Rua Silvino Olavo, nº 17, em Tambauzinho.
Se você deseja apadrinhar uma criança ou adolescente pode comparecer ao NAPSI ou saber mais informações pelos telefones 3222-6920 e 3222-6156.